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Chico Buarque – Duetos Com Chico Buarque [Álbum]


Duetos Com Chico Buarque

Chico Buarque

Brasileira 31 de Dez de 1986



Em 31 minutos, o álbum marcha no tempo maduro de seu artista sem sobressaltos e êxtases. Não há sobressaltos porque nenhuma das dez faixas põe em dúvida a engenhosidade de um compositor que desde seu aparecimento, em meados dos anos 60, já se impôs de imediato entre os maiores criadores da música brasileira – artista que se agigantou na década de 70 quando sua obra foi farol que tentou acender todas as luzes possíveis em um Brasil escurecido pelas nuvens negras da ditadura. Tampouco haverá êxtases para quem for procurar em Chico o Buarque desses anos de produção áurea. O tempo é outro. E, para atestar a evolução do tempo, basta confrontar a seminal A Banda (Chico Buarque, 1966) com Rubato (Chico Buarque e Jorge Helder, 2011), dobrado que marcha em compasso ternário, em sintonia com o título em italiano que pode significar o roubo do tempo de uma canção. Na letra, a parte que lhe coube na parceria com o baixista de Chico, Buarque narra o movimento contínuo de música que troca incessantemente de mãos e musas. As narrativas urdidas nas letras de Chico, aliás, refletem o contínuo exercício do compositor no ofício da literatura – e não somente porque o narrador desmemoriado de Barafunda (Chico Buarque, 2001) – samba temperado com molho de salsa pelo piano de João Rebouças – bem poderia ser o ancião que protagoniza o último romance do escritor, Leite Derramado (2009). As visões do caminhante solitário expostas nos versos de Querido Diário (Chico Buarque, 2011) – toada que tem sua ruralidade acentuada pela viola de Jaime Alem em contraponto com as cordas eruditas do Quarteto Radamés Gnattali – renderiam outro romance ou filme sobre as grandezas e mesquinharias do povo brasileiro. No confronto do artista com seu tempo, Essa Pequena (Chico Buarque, 2001) – pseudoblues ambientado em leve clima jazzy – reflete sobre os distintos fusos horários que pedem urgência no romance entre homem velho e mulher jovem. “Meu tempo e curto, o tempo dela sobra / Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora”, compara Chico nos versos iniciais da canção, possível retrato de seu envolvimento afetivo com a cantora Thaís Gulin, convidada da valsa-canção Se Eu Soubesse (Chico Buarque, 2011), já apresentada ao público em abril no segundo disco de Gulin com participação do compositor. As duas gravações em dueto são diferentes, mas igualmente harmoniosas. A harpa de Cristina Braga acentua o clima onírico das divagações afetivas da letra no segundo dueto. E aqui cabe ressaltar que Chico é, em essência, um disco de canções de amor. Mas até as dores de amores são filtradas pelo tempo da maturidade. O abandono é ruminado com resignação nos versos de Sem Você 2 (Chico Buarque, 2011), faixa doída em que o violonista e diretor musical do disco, Luiz Claudio Ramos, cita na introdução a canção que é a musa inspiradora do tema, Sem Você (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1959). Contudo, em qualquer tempo, a vida pode ser sonho. E é nas asas da sua imaginação que o compositor viaja virtualmente até Moscou na ânsia de encontrar a amada personificada já no título de Nina (Chico Buarque, 2011), linda valsa que tem sua tonalidade russa ressaltada pelo acordeom de Marcos Nimrichter. Deste lado do Atlântico, o jogo do amor se arma entre fogueiras de São João, símbolos do universo nordestino evocado na letra de Tipo um Baião (Chico Buarque), tema que começa como canção e se transforma em baião, em exemplo do requinte harmônico que envolve Chico da primeira à última das dez faixas. Pena que esse jogo amoroso não ganhe a malícia e a ginga exigidas pelo já conhecido samba Sou Eu(Chico Buarque e Ivan Lins, 2009). Regravado pelo compositor em dueto com Wilson das Neves, o grande samba se apequena no registro quase sem vida de Chico. Em contrapartida, o álbum se agiganta em seu fim. De tom afro que remete aos tempos do Brasil imperial, cujo linguajar é reproduzido por Chico em sua letra, o samba Sinhá (Chico Buarque e João Bosco) é a obra-prima do disco. O violão e os vocais de Bosco adensam as súplicas do escravo em vias de ser torturado pelo seu senhor pela acusação de ter visto nua a sinhá do título. Música que talvez possa até fazer sucesso se ganhar a voz de uma cantora identificada com o universo afro-brasileiro, Sinhá fecha brilhantemente álbum que – a despeito de ser tijolo de menor peso na grandiosa construção buarquiana como seu antecessor Carioca (2006) – resulta sedutor. Urdido no tempo todo próprio de seu artista, Chico é retrato sofisticado deste artista quando maduro.

℗ 2002 BMG Brasil Ltda.


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Chico Buarque – Duetos Com Chico Buarque [Álbum] Chico Buarque – Duetos Com Chico Buarque [Álbum] Reviewed by Unknown on fevereiro 13, 2018 Rating: 5

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